sexta-feira, setembro 30, 2011

A HIPOCRISIA NOSSA DE CADA DIA 1 - PROSTITUIÇÃO


prostitutas

Em 1999, no Recife, enquanto me dirigia pela escada rolante ao piso superior de um shopping, ouvi o que dizia, ao telefone celular, uma jovem que não percebera que eu estava a menos de um metro dela:

-- Sou morena, bonita, tenho dezoito anos, um metro e sessenta e cinco, cabelos pretos, seios médios e firmes, bundinha arrebitada, corpo de modelo, gosto de beijar na boca, faço tudo e... -- ela interrompeu o que dizia, ao perceber a minha presença e se afastar com um sorriso malicioso de quem estava "à venda".

Ainda chocado com o que eu acabara de presenciar, comentei o fato com o taxista que me levava de volta para o trabalho. Aquele homem simples me disse:

-- Mas, "doutor", o que era de se esperar? Essas meninas são bombardeadas o dia todo com propagandas do tênis da moda, do jeans, da bolsa, do celular, do óculos, etc. Aí, elas querem essas coisas, mas não tem dinheiro. Então, para conseguir o dinheiro, elas vendem a única coisa que elas tem: o corpo!

Ontem, 07/10/09, o jornal O Estado de São Paulo publicou reportagem sobre o resultado de uma pesquisa conduzida por psicológos do Instituto WCF (World Childhood Foundation) -- uma ONG criada pela rainha Sílvia, da Suécia, que tem como objetivo "promover e defender os direitos da infância em todo o mundo". A pesquisa apontou entre outras coisas que, diferentemente do que as pessoas pensam, 88% dessas meninas moram com a família; 52% delas são aliciadas para a prostituição pelas próprias amigas; 65% do dinheiro que elas ganham é usado para comprar os mesmos bens de consumo citados pelo taxista do Recife. Ou seja, o taxista além de simples era sábio.

No entanto, eu não estou escrevendo isso para falar que a pesquisa comprova o que o taxista já sabia. Não, estou escrevendo para denunciar a "hipocrisia nossa de cada dia". Sim, pois, veja você que o mesmo jornal que apresenta os resultados dessa pesquisa e publica os escândalos sexuais envolvendo personalidades públicas e prostitutas, também publica em seus Classificados, na seção Relax - Acompanhantes, anúncios do tipo a seguir, com telefones para contato:

"Abigail, virgem, R$ 200, p/ brincar";

"Satiko, japonesinha, 18 anos, iniciante carinhosa";

"Any, 18 anos (loira belíssima), liberal c/ massagem"; etc.

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Ora, qualquer um percebe que esses são anúncios de prostituição. Detalhe, essa não é uma prática exclusiva do jornal paulistano. Anúncios de prostituição estão presentes em quase todos os periódicos brasileiros. Que palavra usaremos para descrever essa prática de promover aquilo que se condena? Informação? Serviço? Não, eu prefiro chamar de... hipocrisia.

Hipocrisia, dos jornais, porque lucram com aquilo que aparentam denunciar.

Hipocrisia, das autoridades, que fingem que as prostitutas não existem ao negar-lhes os direitos dos demais cidadãos, para agradar aos religiosos.

Hipocrisia, dos religiosos, que são rápidos em sacar suas bíblias para mostrar nelas que Deus condena a prostituição e que, portanto, reconhecer a profissão de prostituta é ir contra Deus. Entretanto, esses mesmos religiosos esquecem-se que Moisés não inventou e nem concordava com o divórcio -- algo que na bíblia é dito que Deus odeia. No entanto, o legislador do olho por olho e dente por dente não fez de conta que o divórcio não existia. Pelo contrário, ele estabeleceu regras para o divórcio, a fim de salvaguardar as mulheres das injustiças cometidas contra elas pelos homens.

Hipocrisia, dos homens, pois, raros são aqueles que nunca utilizaram os "serviços" de uma prostituta.

Hipocrisia, da sociedade, que finge não ver que as prostitutas existem. Outro dia, enquanto percorríamos a Av. Conselheiro Aguiar, em Recife, a mãe de minhas filhas contou 83 (oitenta e três!) prostitutas (apenas em uma avenida) aguardando homens que as contratassem. Isso sem contar as milhares disponíveis na Internet e nos anúncios classificados dos jornais.

Portanto, somos hipócritas quando negamos às prostitutas os direitos dos demais trabalhadores desse país.

Isso é o que eu penso!

Bento Souto

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sexta-feira, setembro 23, 2011

PRECISO DA SUA AJUDA AGORA MESMO

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Ontem, 22/09/2011, em Marabá, no Pará, José de Arimatéia de Sousa (foto acima), mais conhecido por “Burrego”, meu amigo há mais de 35 anos, sofreu um acidente e quase foi esmagado por um caminhão. Neste momento, ele se encontra numa maca no corredor do CESP, Hospital Municipal de Marabá, com diversos ferimentos e uma fratura exposta em uma das pernas.

Preciso de você para ajudá-lo de uma das seguintes formas:

1. COMPANHIA – “Burrego” precisa que alguém lhe faça companhia  no Hospital, até que a esposa e o filho cheguem a Marabá. Eles saíram de Campina Grande-PB, ontem à noite, mas só devem chegar à Marabá no sábado pela manhã – são 2.000 quilômetros de distância. “Burrego” não tem parentes e/ou amigos em Marabá. Quem está fazendo companhia a ele no Hospital é outro motorista de caminhão, que precisa seguir viagem.

2. ACOMODAÇÕES – A mãe e o filho de “Burrego” precisam de um cantinho para dormir e tomar banho quando chegarem à Marabá. Eles são gente simples, humilde e grata. Um colchonete no chão (ou um sofá) já basta para que eles possam renovar as forças enquanto descansam da viagem e se revezam na companhia a “Burrego” no Hospital.

3. UM MOTORISTA DE CARRETAS – “Burrego” precisa urgentemente achar, em Marabá, um motorista com experiência e habilitação categoria “E”, para trabalhar com o caminhão dele enquanto ele estiver impossibilitado de dirigir. Após quase 40 anos trabalhando para os outros, há dois meses “Burrego” conseguiu financiamento para comprar um caminhão. Portanto, agora, além de pobre, ele está endividado e precisando que o caminhão trabalhe para poder pagar as prestações.

Se você puder ajudar de alguma forma, ou conhece alguém que possa, por favor, entre em contato comigo através dos telefones 83 3333-3331 (fixo), 83 8600-3850 (celular OI) ou 83 9981-7900 (celular TIM), ou mande o seu telefone (fixo ou TIM) que eu entrarei em contato.

Essas são necessidades imediatas e urgentes. Portanto, não demore. Preciso da sua ajuda nesse instante. Não se acanhe e nem ache que “outros” irão ajudar. Preciso de você. Em nome de Jesus eu agradeço a sua ajuda e peço as orações de todos.

Bjs

Bento Souto

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segunda-feira, setembro 19, 2011

SERÁ QUE SOU GAY?

pensador

Bento, gostaria de falar um pouco sobre a minha vida, e receber um conselho seu, pois reconheço sua inteligência e caráter.

Pois bem, começo do começo, quando eu era criança tive participação no famoso troca-troca, era com um primo meu, e ficamos nisso acho que por um ano ou mais, por ser algo proibido e escondido eu gostava. Mas chegou uma época que não queria mais fazer isso, me sentia mal...  Nessa época da infância também tinha curiosidade de conhecer sexualmente as mulheres, pegava as bonecas pra ver elas nuas e fingir que estava penetrando elas...   Cheirava calcinhas, e comecei a me masturbar aos 12 anos, gostava de fazer isso quando tinha visita de amigas de minha irmã, fantasiava as amigas nuas etc.

Também na minha infância comecei a gostar de uma menina,  só que eu nunca tinha coragem de contar que gostava dela, uma vez, eu contei, mas ela espalhou para todo mundo, fiquei com vergonha e muito bravo, falando que não gostava dela...   Foi uma espécie de amor platônico, esse “sentimento” durou uns 8 anos...

Em tudo isso que eu vivia um conflito sempre me acompanhava, e era sobre a minha orientação sexual, desde quando me entendo por gente isso me acompanha, duvidas se eu gosto de mulher ou não... Desde a infância fui zuado, chamado de gay, boiola, e isso chegou até os dias de hoje, e isso sempre me incomodou e também fez eu pensar se talvez não fosse homossexual mesmo , eu nunca olhei um site pornô gay,  visito sempre sites de mulheres etc.

Quando completei 17 anos tive a minha primeira relação sexual, não foi das melhores, até por que os pais da menina chegaram, e tive que parar de transar...  Depois disso eu tive um contato homossexual, eu estava em uma barraca com uns amigos, e tinha um cara que era gay, estávamos dormindo e ele começou a pegar no meu pau, eu tirava a mão dele, mas ele colocava a mão de novo, foi indo que acabei o deixando fazer sexo oral em mim, gozei na boca dele e depois ele queria que eu o comesse, mas daí eu senti nojo e parei...

Quando eu iria fazer 18 anos, comecei a namorar uma menina, foi a minha primeira paixão, sentia tesão, desejo de estar sempre ao lado dela, mas eu tinha uma insegurança enorme, achava que a todo o momento ela poderia me trair, era algo muito louco...  E para completar eu conheci um amigo dela que era gay, e ele também começou colocar em duvida a minha sexualidade, falando que eu era gay, e isso me deixava inquieto, pois eu sabia que gostava de mulher, por que ela falava isso? (e ele não é o único gay que já chegou a falar isso pra mim)

Eu fiquei alguns meses com ela, mas ela não queria transar e isso fez com que eu terminasse, pois queria saber se gostava de mulher mesmo e para isso tinha que transar...  Daí comecei em uma promiscuidade, lembro que transei com umas 11 mulheres...    Isso fazia com que eu me sentisse homem, sabendo que poderia comer uma mulher, sentir prazer etc.

Mas depois de tudo isso que aconteceu nunca mais tive relações que durassem muito, sempre foi 3 meses, 4 meses, nunca passou disso. E também fico com o conflito da sexualidade, visto que tem gays que muitas vezes falam que eu sou homossexual, e me pego muitas vezes pensando que eu tenho uma bissexualidade, mas eu sei que tenho que resolver isso em minha vida, mas como fazer isso?  Como lidar com essa situação?

É por isso que te peço ajuda irmão,

Grande abraço
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Meu querido irmão,


Muito grato pela confiança em mim depositada.

Daqui de longe e tendo apenas o seu relato como base, eu te digo: você não é gay e muito menos bissexual. Seu problema me parece ser acreditar naquilo que os outros te dizem. Ou seja, ao invés de você mesmo definir quem você é, sexualmente, você permite que outros te definam. Isso para mim tem outras razões e espero poder fazer você entender o processo que se instalou em você.

Em primeiro lugar, você confunde a prática de uma ou duas vezes do ato sexual homossexual com a Homossexualidade. Esse é o grande equívoco dos fundamentalistas religiosos. Eles [os fundamentalistas] crêem que todos os seres humanos são homossexuais em potencial, bastando que alguém tenha uma única experiência sexual com uma pessoa do mesmo sexo para que esse alguém se torne homossexual. Ledo engano!

Homossexualidade, em minha opinião, pode ser constatada até sem que a prática sexual homossexual haja ocorrido. Tenho encontrado pessoas que sabem que são homossexuais, mesmo sendo virgens. Essas são pessoas cuja afetividade toda é dirigida para pessoas do mesmo sexo. Esse não é o seu caso. Basta olhar o que você disse sobre a sua afetividade.

Primeiro, você disse que parou o troca-troca de criança porque "se sentia mal". Depois, quando um gay pediu que você o penetrasse, você "sentiu nojo". Depois, você disse que, desde criança, "tinha curiosidade de conhecer sexualmente as mulheres, pegava as bonecas pra ver elas nuas e fingir que estava penetrando elas, cheirava calcinhas". Além disso, diz também que começou se "masturbar aos 12 anos" e, "gostava de fazer isso quando tinha visita de amigas de minha irmã, fantasiava as amigas nuas etc." Por último, você também disse que na sua infância começou a "gostar de uma menina."

Ora, se você tivesse dito que se "sentiu mal" e "teve nojo" do contato com as meninas, que se masturbava pensando em rapazes, que também se apaixonou por rapazes, então, eu concluiria que você era gay. Mas não é assim. Até sua afetividade é dirigida para as mulheres. Afinal, você disse que se apaixonou duas vezes e ambas as paixões foram por mulheres.

Portanto, em vista disso tudo, eu só posso concluir que você é heterossexual. Ora, se é assim, de onde vem a sua dúvida se você é gay ou bissexual? Em minha opinião, essa sua dúvida teve origem no troca-troca que você fez quando criança e na sua aceitação, sem questionamentos, do ditado que diz que "um gay conhece outro".

Brincadeiras sexuais de crianças não tem o poder de definir sexualidade de ninguém. Claro, quando as brincadeiras são entre crianças da mesma idade. Se, por exemplo, um garoto mais velho e experiente convence o mais novo a ser penetrado, isso não é brincadeira: é abuso sexual. Nesse caso, o mais novo tenderá a associar sexo com "toque no ânus". Se outros garotos ficarem sabendo desse fato e também usarem o mais novo como a "mulherzinha do grupo", há grande possibilidade de que esse garoto mais novo acabe acreditando ser homossexual. Todavia, pelo seu relato, esse não foi o seu caso.

Já quanto a máxima de que "um gay conhece outro", apesar de verdadeira, ela não é infalível e nem está isenta de manipulação por parte de pessoas maldosas. Você é um rapaz jovem e bonito. Imagino que alguns gays que queriam "traçar" você, devem ter dito que você é gay, para poderem ter sexo com você, ou até para zoarem com você. Porém, saiba, você não é gay. Tenho vários amigos que são gays e tenho certeza que eles concordam com a minha opinião. Você é apenas um garoto inseguro que acreditou que a máxima "um gay conhece outro" é infalível.

Da mesma forma que você, milhões de outros garotos ficam extremamente inseguros na presença de gays por temerem que eles (os gays) digam que eles (os garotos) são gays. Somente com a maturidade é que a presença de gays deixa de provocar insegurança nos garotos. Ou você ainda não tinha reparado que os grupos mais extremados de anti-gays (aqueles que chegam a usar de violência) são compostos em quase sua totalidade por jovens?

Quanto aos seus amigos zoarem com você, dizendo que você é gay, saiba, isso também é uma técnica de manipulação. Como eu já disse antes, sei que você é um rapaz bonito, devido às fotos suas que já vi no seu perfil. Assim, que maneira melhor teriam seus amigos de tirarem você da disputa pelas mulheres, senão dizendo que você é gay? Ora, homem bonito e, ainda por cima, macho, pega todas as meninas, deixando apenas as "sobras" para os amigos feios. Portanto, entenda a psicologia dos machos em competição por fêmeas e você não dará tanta importância ao que dizem os seus amigos.

Quanto ao fato de seus relacionamentos atuais serem de pouca duração, ora, sem insegurança, isso já é um fato corriqueiro em nossa sociedade atual. Imagine com a insegurança que tem lhe acometido!?

Bom, espero que minha resposta possa ajudar você e muitos outros garotos e garotas que, porventura, a leiam.

Beijão

Bento Souto

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quinta-feira, setembro 15, 2011

“LAMPIÃO” DE MINISSAIA

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Muitos foram os personagens que enriqueceram minha infância e adolescência na Paraíba. Um dos mais curiosos foi “Lampião”. Claro, não estou falando do “capitão” Virgulino Ferreira, o mais famoso entre todos os cangaceiros que viveram no Nordeste, que foi imortalizado em incontáveis histórias contadas em verso e prosa, em livros, peças teatrais, estátuas e museus, novelas “globais” e filmes, etc.

Não, não lhes falo daquele que ficou conhecido como o Rei do Cangaço. Até porque quando eu nasci há muito ele já havia morrido. Pelo contrário, quero lhes falar acerca de uma outra pessoa que também ficou conhecida como “Lampião”, nas décadas de 60 e 70, em Campina Grande-PB.

Judite, nome pelo qual a “Lampião” da nossa história fora batizada, era vizinha da minha família no “Buraco da Gia” – o bairro mais “barra pesada” que havia em Campina Grande, à época, e que hoje, vejam só que ironia, mudaram o nome para “Rosa Mística”.

Judite, a “Lampião” de nossa história, ganhava o pão de cada dia exercendo uma das mais antigas profissões existentes na face da Terra: prostituta profissional. Ou, como se diz na Paraíba, Judite era uma “rapariga”.

Judite ganhara o apelido de “Lampião” por diversos fatores físicos e comportamentais. Ela foi a mulher mais forte que eu já vi na vida. Os braços de Judite eram cheios de músculos bem torneados. As pernas dela tinham panturrilhas enormes e mais bem delineadas do que as de muitos atletas. Enfim, a pessoa que eu acho que mais se parece com Judite é Ben Johnson – aquele jamaicano/canadense, recordista olímpico dos 100 metros rasos, flagrado no exame anti-doping por ter tomado anabolizantes.

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Judite era apelidada de “Lampião”, principalmente, por causa do seu destemor em enfrentar os homens na porrada. Cliente que se metesse a besta com ela, isto é, fazer o “programa” e não querer pagar, apanhava muito. Também não foram poucas as vezes em que Judite enfrentou a Polícia. Apenas dois ou três policiais não eram suficientes para dominá-la.

A amizade de minha mãe com Judite se devia ao fato dela [Judite] gostar muito do meu irmão pequeno, João Batista, a quem Judite gostava de pegar no colo e ficar acariciando os cabelos loiros dele. Aliás, por falar em cabelos, os de Judite eram curtíssimos. Ela dizia que era para que, numa briga, ninguém pudesse agarrá-la pelos cabelos.

Lembro do dia em que minha mãe, em sua santa ingenuidade, perguntou pra Judite, por que ela sempre usava saias e vestidos curtíssimos.

– É para não atrapalhar se eu não puder vencer uma briga e tiver que fugir na carreira – respondeu a “Lampião de minissaia”, destruindo a minha certeza que o figurino se devia a profissão dela.

Após todos esses anos, duas coisas continuam me intrigando; quem se sentia atraído sexualmente por Judite e era doido o suficiente para fazer um “programa” com ela?

Bjs

Bento Souto

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sexta-feira, setembro 09, 2011

O PSICANALISADO

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Era uma vez um cara que entrou num bar, sentou no balcão do dito bar e, depois de chamar o garçom, pediu um chope. O garçom encheu uma caneca e deu pro cara. Este agradeceu e bebeu de uma talagada só, até o meio da caneca. Depois, balançou o chope que ainda restava, balançou, balançou… o garçom olhando pra ele… balançou e pimba! atirou o resto na cara do garçom.

É claro que o garçom já ia sair no tapa, quando o cara, quase chorando, pediu muitas desculpas, falou que aquilo era um gesto incontornável que ele tinha e – por isso mesmo – carregava na consciência um complexo desgraçado.

E tanto falou e se desmanchou em desculpas, que o garçom aceitou a situação e aconselhou o cara a ir consultar um psicanalista, conselho que foi logo aceito. O cara se despediu, tornou a pedir desculpas e prometeu que, no dia seguinte, ia procurar um psicanalista.

Passaram-se alguns dias, até que o cara apareceu outra vez no bar e pediu um chope. O garçom trouxe, ele virou metada de uma talagada só e começou a balançar o chope na caneca. Foi balançando, balançando… o garçom tá olhando pra ele… Outra vez! balançou mais uma e pimba!… novo banho na cara do garçom. E este ainda estava enxugando os respingos, quando o cara pediu outro chope.

Mas o garçom se queimou e falou: – Escuta aqui, seu chato. Da outra vez você me de o banho, mas depois pediu desculpas. Desta vez você piorou. Nem desculpas pediu.

– Piorei nada. Melhorei – disse o cara: – Fui ao psicanalista e melhorei. Ele me tirou o complexo. Agora eu ando tão desinibido quefaço a mesma coisa, mas sem o menor remorso.

(Dois amigos e um chatoStanislaw Ponte Preta – Editora Moderna)

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Sérgio Porto (1923–1968), que usava o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, criou as mais engrançadas crônicas, criou moda, criou até muito da gíria que usamos até hoje.

segunda-feira, setembro 05, 2011

PARA VIVER UM GRANDE AMOR

Sábios conselhos do poeta Vinicíus de Moraes para todos e todas que desejam viver um grande amor.

Para Viver Um Grande Amor

Vinicius de Moraes


Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.


Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.

Conheça a vida e a obra do autor em "
Biografias".

Bjs

Bento Souto

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sexta-feira, setembro 02, 2011

AOS ATEUS, COM CARINHO!

macaco pensando

Acho que o argumento básico dos ateus é o seguinte: 

"Deus não existe porque há muitas religiões. Se Ele existisse, só deveria haver uma. Como existem muitas religiões, eu não sei qual delas seguir e nem qual o deus que existe, pois o deus de uma é diferente da outra. Cada uma delas tem um livro sagrado e os ensinos de uma são contrários aos ensinos da outra. Sendo assim, eu concluo que Deus não existe ou que, se existir, não faz diferença, pois ninguém sabe quem Ele é mesmo". 

Todavia, no fundo, no fundo, o que eles estão dizendo é: 

-- Deus não existe porque Ele não se revelou a mim!

Ora, de uma forma infantil, era isso mesmo que eu dizia quando era ateu e falava, para espanto dos meus amigos: se deus existe, que ele faça essa laje cair na minha cabeça, agora!

Já houve uma época em que eu teria verdadeiro prazer em contar, em detalhes, como foi que Deus se revelou, de forma inequívoca, para mim. Mas, de que adiantaria isso pra você?

Alguém poderia ter um "testemunho" melhor do que Paulo, o apóstolo cristão? Afinal, o sujeito diz que ficou cego por uma luz; ouviu uma voz que dizia ser Jesus; e a voz mandou quem só conhecia Paulo como inimigo para fazer uma "oração milagrosa" que lhe curou da cegueira.

Ora, mas quem continuaria ateu depois de passar por isso?

Algum de vocês ainda continuaria ateu se passasse por algo desse tipo?

Hein? Imagina só isso. Você acaba de ler essa mensagem e já pensa em responder. Aí, do nada, você caí no chão, vendo uma luz tão intensa que te deixa cego. Então, você escuta uma voz [junto com o pessoal da tua casa -- pra você não achar que ficou doido] que diz duas vezes o seu nome: 

-- Fulano(a), Fulano(a), por que me persegues?

Acho que a primeira coisa que alguém faria, se algo assim acontecesse, seria perguntar quem falava. 

O que você faria se ouvisse como resposta:

-- Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Levanta daí e vai [cego mesmo] pra tal lugar que lá te dirão o que deverás fazer?

Eu pergunto se, depois disso tudo, alguém iria pra outro lugar, senão para onde a voz que dizia ser Jesus mandou? Será que alguém diria algo do tipo:

-- Ei, eu estou cego. Vocês dizem que ouviram a mesma Voz que eu eu ouvi. Mas, larga isso pra lá... eu continuo cego, mas me leva lá pro Hospital Sírio Libanês... lá eles tem bons oftalmogistas e psiquiatras. Tenho certeza que tudo não passou de "alucinação coletiva"... Alguém diria isso?

Então, depois de três dias lá, no lugar que a voz mandou você ir, chega alguém que você não conhece, põe as mãos na sua cabeça, e diz:

-- Fulano(a), irmão(ã), Deus me enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu na tua casa, para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo. Daí, após essas palavras, caí algo como escamas dos seus olhos e você torna a enxergar. 

Me diga, sinceramente, você passaria por isso tudo e ainda diria: sou ateu? Penso que não. 

Contudo, se isso tudo acontecesse contigo, saiba, isso não teria nenhum efeito sobre ateus como você. Sim, nada mudaria para os que dizem que Deus não existe. Eles continuariam sem crer porque nada parecido lhes aconteceu e exigindo que, o que aconteceu com você aconteça com eles também para que eles creiam. E sabe o que seria mais curioso? Eles iriam dizer que você é louco, mentiroso, tolo, etc. Eles apenas não considerariam como verdadeira a possibilidade de que você conseguiu ter a "prova" que eles exigem.

Ou seja, a prova que um ateu exige como evidência para aceitar a existência de Deus não serve como prova para outro ateu. Sim, porque quando quando alguém diz, "eu era ateu, mas Deus se revelou a mim de maneira inconfundível", os ateus não acreditam. Portanto, em minha opinião, querer "provar" para um ateu que Deus existe é a mais completa pura perda de tempo.

Assim, o que me leva a escrever isso tudo não é para "provar" que Deus existe. Mas, apenas para dizer que o que eu pedia para acontecer comigo, quando eu era ateu, aconteceu; e eu não posso e nem quero negar. Deus se revelou a mim. Minha oração sincera é que Ele também se revele a você.

Bjs

Bento Souto

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